quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

 

David-Boreanaz-agf02O outro soldado veio chamá-lo. Estava na hora. Ele diz que já vai. Troca as calças que está a usar, aquelas estavam rasgadas. Não veste uma camisa, optando por um pulôver azul-escuro com meia gola e fecho no ombro. Ficava-lhe muito bem. Ela sabia que no agrupamento, haveria muitas amigas suas que ficariam a suspirar por ele, naquela noite. Porque seria que ela sentia um misto de ciúme e raiva? Poderia ela estar a apaixonar-se? Seria o amor à primeira vista, uma realidade, na qual ela nunca acreditou? Ambos guardaram os seus pensamentos. O que se passara durante a tarde tinha sido sério, muito sério e os dois, tinham plena consciência disso.

Ele olha-a, está constantemente a olhar para ela, a decorar cada traço, a observar cada movimento da luz no seu rosto, cada partícula de luz que se separa na sua pele, saltando de vergonha de não ser tão perfeita como ela e perdendo-se no ar, para sempre, transformando-se em algo que ela pode usar a seu favor, energia pura. Ela parecia-lhe um anjo de luz, um ser de energia, algo que foi feito para nunca ser maculado. E a ele? A ele, cabia-lhe a tarefa de domar essa energia, de a tornar sua, de a proteger, de fazer tudo, para que ela sofra o menos possível, nestes dias que se aproximam e que ele não pode alterar. Ela evita olhá-lo, não quer de forma alguma irritá-lo ainda mais. Ela está arrependida do seu comportamento. Ela não queria ter sido obrigada a magoá-lo, ela simpatizava com ele. Por outro lado, ela pensava em tudo o que iria acontecer durante aquela noite.

Ele iria estar com o seu namorado, iriam falar dela, concerteza. Ela repara que ele enche uma garrafa de bolso, com wisky e que a guarda em um dos muitos bolsos das calças. Claude sempre fora fraco para a bebida, não seria necessário muito para que lhe dissesse tudo, tudo o que ele quisesse saber. E Claude sabia de tudo sobre a vida dela. Aquele homem, aquele namorado, era o seu grande amigo, um dos poucos que ela guardava. Claude sabia de tudo, porque ela lhe contava tudo. Coisas que nem a mãe, a mãe que ela tanto ama e protege, se recorda, coisas que nem ela, sabe muito bem porque lhe contou, coisas nas quais, até ela tem dificuldade em acreditar que aconteceram, mas que existiram e que ainda a assombram constantemente.

Ele penteia-se mais uma vez, coloca um pouco de after-shave, bebe um pouco da garrafa de whisky, que estava sobre a mesa e concentra-se. Percorre mentalmente, tudo o que precisa fazer, dizer e ouvir. Auto motiva-se para a missão que o aguarda. Os outros voltam a chamá-lo de fora da tenda e ele grita, com aquele timbre de voz que lhe é tão familiar, que já vai. Aproxima-se dela. Senta-se na sua cama, acaricia-lhe a cara e beija-a. Ela também o beija e voltam a olhar-se. Eles olham-se como se nunca mais se fossem ver de novo, como se fizessem amor e estivessem num mundo só seu, num mundo criado, unicamente, para eles.

Ele sai. Ela ouve o restolhar dos seus passos. O som fica cada vez mais distante. Deixa de ouvir. Na tenda não ficou nenhuma luz e lá fora deixaram apenas uma fogueira. Sente medo. Sente muito medo. Está só, amarrada, despida, sem nenhuma forma de defesa contra qualquer perigo que lhe possa surgir.

Ele aproxima-se do acampamento que tanto observou na última semana. Lá espera-lhe o namorado daquela rapariga, daquela vítima de um bem maior, por quem se apaixonou. Lá estão as respostas às suas dúvidas. Quanto mais se aproximava, mais o seu coração acelerava. A verdade é que parecia um adolescente que vai conhecer os pais da sua namorada nova. Mas não era assim. Ele não tinha mais quinze anos e a sua namorada, era sua refém. Eram todos, vítimas de um destino impiedoso, que os unira de uma forma pouco ortodoxa, pode-se mesmo dizer dolorosa, mas que os juntara para sempre.

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