quinta-feira, 27 de agosto de 2009

CAVERNA2 - Bons dias!

- Bom dia! – respondem em uníssono, os dois soldados. – Que fazem vocês por estas bandas?

- Já cá estão a algum tempo? – inquere a voz madura do namorado dela.

- A alguns dias. Estamos a treinar para uma missão especial. – responde o mais novo.

- E vocês? – pergunta o mais velho.

- Estamos a fazer um acampamento, nada de mais, apenas a aproveitar os últimos dias de férias de Verão dos miúdos. – ela vê-o a sorrir, com a segurança de quem sabe o que tem que fazer e gosta do trabalho que o espera. Ela observa-o, enquanto ele sai para ir ter com eles.

- Bom dia! Posso ajudá-los? – diz assim que sai da tenda. Ele observou os três intrusos com atenção e cuidado, há que estar preparado para qualquer eventualidade e nunca desprezar os seus inimigos. No entanto, não deixa de sorrir, novamente, quando se apercebe, que para além de mais novo, é também, mais bem-parecido, que o namorado da sua refém.

- Talvez! – responde-lhe o chefe da sua recente amada com cuidado.

- Tudo o que estiver ao meu alcance. – oferece. Aquele homem de trinta e poucos anos, aproxima-se dele e confessa.

- Um elemento do nosso agrupamento, desapareceu esta noite. Não sabemos o que se terá passado e andamos à sua procura, antes de tomarmos qualquer medida mais extrema. Você sabe como são estes adolescentes, não queremos passar por nenhuma vergonha.

- Não vimos ninguém, lamento. – responde o mais novo, ele confirma.

- Realmente não vimos nada fora do normal, mas que idade tem ela? Como é que ela é? – o namorado olha para os seus companheiros antes de formular uma resposta e responde de forma pouco segura.

- É uma menina comum, bonita, bem desenvolvida, cabelos pretos que lhe chegam até o meio das costas, olhos azuis lindíssimos. – ela chora – Tem doze anos, mas parece muito mais velha que isso. - ele apercebe-se que o namorado da sua prisioneira, havia mentido na idade. Fazia-a passar por mais nova, para que, no caso de a encontrarem, a tratarem como uma criança. Era esperto e ele tirava-lhe o chapéu. Porém, sabia perfeitamente que ela deveria ser mais velha que isso.

- Agora tenho a certeza que lamento não a ter visto. – gracejou, com vontade. O namorado não se riu. – Vocês vão ficar aqui muito tempo?

- Mais dois dias. Depois de amanhã, vamos-nos embora. – dois dias não era muito tempo, eles poderiam esperar esse tempo. – Vocês querem juntar-se a nós esta noite? Serão bem-vindos. Podem jantar connosco e assistir ao fogo-de-conselho. Sempre seria uma fuga à vossa rotina de treino. – os dois soldados olharam para o seu chefe, ansiosos. Eles não se importariam de se divertir um pouco. Fazia já um mês que não contactavam com mais ninguém. Por outro lado, ele próprio queria saber mais sobre o seu anjo e isso, era mais importante que tudo o resto.

- Claro! Será um enorme prazer. É muito simpático da vossa parte.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

caravaggio-01 Recebi um repto de um amigo, para que explicasse o porquê desta necessidade física, emocional e mental de escrever, escrever compulsivamente, sobre tudo e sobre nada, sobre sentimentos e sobre o que ouvi, sobre a vida dos outros, sobre mim.

Para dizer a verdade, terei que admitir que estou cheia de medo. Tenho medo porque não gosto de explorar os meus vícios com muita profundidade, não quero encontrar por trás dos mesmos, explicações que irão, de certa forma, retirar o prazer de os praticar e escrever é um vício que tenho, um dos que me dá maior gozo, que mais me completa. Acho que é por isso mesmo, que a psicoterapia para mim, é uma perda de tempo.

Mas porque escrevo eu?! Porque retiro eu recompensas da minha escrita, para as quais não tenho palavras para descrever?! Porque seria para mim impossível não escrever, mesmo que fosse apenas na minha cabeça?!

Talvez seja pela mesma razão que o cérebro precisa de sonhar para descansar. Sabem que o corpo só descansa, mentalmente, se sonhar e que os sonhos são uma forma de podermos arrumar pensamentos, de colocar os ficheiros em ordem?! O processo é complicado e não faz sentido numa tradução literal, mas permite organizar recordações, limpar a mente. Creio que escrevo, compulsivamente, pela mesma razão: porque tenho uma necessidade constante de organizar pensamentos, recordações, sentimentos, dores e apenas o consigo fazer se o passar para o papel, mesmo que, tal como os sonhos, estes não surjam de forma simples e directa, mas sim em pequenas metáforas, em pequenos subentendidos, em pequenas nuances, em pequenos pormenores, (como a cor da flor que a heroína usava na barra da saia, do lado esquerdo). Pode não fazer sentido, mas o que escrevo contém tudo de mim. Tudo o que sinto, tudo o que vejo, tudo o que anseio, tudo o que receio, tudo o que desejo. Ao escrever faço as pazes comigo mesmo, conheço-me melhor, aprendo a gostar de mim, a descobrir em mim, atributos, que pensava não possuir, gostos que achava improváveis.

Acho ainda que, escrever é uma forma de dar a conhecer quem sou, quem eu realmente sou e não aquela que todos vêm no comboio todos os dias, aquela  pessoa insatisfeita com o seu emprego, aquela pessoa cansada por não fazer o que realmente gostava de fazer. Escrever é uma forma de eu gritar aos outros e dizer: Vejam, eu sou assim, sou assim mesmo. Gostam?! Querem conhecer-me melhor?!

Escrever faz de mim uma pessoa melhor, porque me obriga a conhecer a mim mesma, a reconhecer tudo. É por isso que escrevo.

Sejam livres de escrever o que vos apetecer e se quiserem podem dizer-me porque gostam vocês de escrever, de partilhar as vossas coisas!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

aloneSentaram-se os três à mesa e esperaram ser servidos. Ela respirou fundo, procurando alguma calma e paz de espírito. Atirou com a comida para cima de cada uma das marmitas e aguardou, sentada numa rocha, que eles acabassem de devorar, o que havia cozinhado. Não sentia fome, no seu estômago estava apenas um nó. Ele observava-a constantemente. Ela já nem ligava. Quando se apercebeu que tinham acabado com tudo o que estava na panela, foi retirar a loiça para lavá-la. Ele sorria candidamente, de uma ou outra piada que os outros diziam.

Ele tinha uma aura de menino de ouro. Não lhe parecia assim tão velho, agora. Era até bem novo, para quem já ocupava uma posição de oficial. Tinha a certeza que ele não tinha mais de vinte e cinco anos e era, pelo menos, capitão. Ela não sabe como, mas apercebia-se sempre dessas coisas. Quando voltou para buscar a panela, o soldado mais velho sentou-a no seu colo e recomeçou com as brejeirices, que já tinha proferido, na noite anterior. Ela protestou, esbracejou e debateu-se. Ela bem procurava os olhos do seu raptor, mas ele não se apercebia do que se estava a passar, apenas prestava atenção a um som, que só ele ouvia. Num berro, manda-os calar. Eles obedeceram de imediato, deixando-a recompor-se. Todos aguardavam ansiosos, novas ordens.

- Eles vêm aí! Ajam com naturalidade. Eu já venho. – só passado um pouco é que ela se apercebe do que se trata, mas já era tarde de mais. Ele já lhe tinha tapado a boca, com as suas enormes mãos e arrastava-a para dentro da tenda. Ele olha-a por uns instantes e liberta a boca dela, os segundos suficientes para a poder beijar. Amordaça-a logo em seguida. Ela larga, finalmente uma lágrima. Ele deita-a gentilmente na cama em que ambos dormiram e amarra-a. – Quem me dera que não fosse preciso fazer isto! – confessa-lhe. Ela engole o choro quando ouve a voz do seu namorado secreto e o seu corpito estremece. Implora-lhe com os olhos, para que a deixe ir, mas ela não sabe, que ele já não o pode fazer. Mesmo que quisesse, agora já era tarde. Ele já a amava. Ela era demasiado nova para ter consciência disso. Estava determinado a conquistá-la. Ele iria tê-la, mas iria ser ela quem o iria permitir. Aquele papel de violador, a que ele se impusera a si próprio, na noite anterior, não se iria repetir. Pelo menos, assim ele o planeava. Seria muito mais fácil, se ela passasse a ser sua amante. Ele espera um pouco com ela, dentro da tenda e ouve, atento, o que se passa lá fora.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Não sei se por acaso alguma vez aqui comentei, que não gosto nem só um pouco de Francês, mas existe nesta língua, uma palavra, que me diverte e que uso com alguma frequência, porque ela significa muito mais do que a sua tradução literal e na realidade pode descrever tudo aquilo que por vezes admiramos em determinadas pessoas, mas que não sabemos o que é exactamente.

Na realidade, foi uma palavra muito usada durante o reinado do Rei Sol, em França e tem também um pouco a ver com aquela época, em que as mulheres para se fazerem notar, ou poderem viver como pensavam e queriam, tinham que ter em abundância. Estamos a falar de um altura, em que as mulheres em todo o lado do Mundo eram consideradas apenas objectos e pouco mais, mas que em França, davam cartas na literatura, na poesia e na filosofia. Muitas das regras de etiqueta e muito do que a língua francesa é hoje, e que todos conhecemos, em muito lhes deve.

Mas voltando à palavra em si: “Ésprit”, significa muito mais que espírito. Significa, isoladamente, ou em conjunto, “Mente”, “Destreza”; “Jogo de Cintura”; “Espinha Dorsal”, “Inteligência”; “Esperteza”; “Ser”, ou como alguém descrevera na altura: «Um poder que todos os outros reconhecem.»

Aristocrata que não tivesse “Ésprit”, depressa era devorado pela máquina cabalista, intriguista e maquiavélica, que era a Corte da altura de Luís XVI. O “Ésprit”, tornou-se um apetrecho social imperativo.

Alguém sabe onde é que se pode comprar, para poder oferecer aos nossos acefálicos políticos?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

… Daqui a 30 dias eu fosse ficar rica?!

 

Agora, e infelizmente apenas no plano da fantasia, se eu daqui a 30 dias fosse ficar rica o que deveria fazer? O que fariam vocês se soubessem, com toda a certeza, que iriam ficar ricos? Que planos fariam, que atitudes tomariam, que medidas achariam necessárias?

terça-feira, 11 de agosto de 2009

abismo (2) Existe algo que os homens nunca compreenderam, mas que eu vou tentar explicar: as mulheres mudam o seu comportamento, conforme a forma como estão vestidas. Ela ontem estava nua, desprotegida, apenas podia contar com a sua pele, para a influenciar, mas hoje, ela tem uma farda vestida. É certo que é de escuteira, algo que inspira pouco ou nenhum respeito, mas de todas as formas, é uma farda e, portanto, ela age à altura do que veste. Eles são militares, movem-se e comunicam como tal e ela também sabe jogar esse jogo. Ela compreende muito bem esse orgulho que provém de se estar a cumprir uma missão, seja ela qual for. Ela também tem uma: sobreviver.

- Bem! Já que aqui estás, ao menos que te tornes útil. Vê se preparas algo comestível para almoçarmos. – ordenou-lhe, olhando-a frente a frente, olhos nos olhos. Ela sabia que não o podia enfrentar como fez na noite anterior, por isso, limitava-se a olhar o horizonte, tal como havia aprendido a fazer nas paradas. Ele era o superior hierárquico dos outros dois e ele nunca permitiria uma insubordinação vinda da parte dela, à frente dos outros. Ela tinha conhecimento disso e sabia que, aceitar isso como um facto, a salvaria de qualquer outro problema. Acatou a sua ordem, com uma submissão militar, que ainda o desconcertava.

Acabou por procurar, na cozinha improvisada, qualquer coisa para fazer para o almoço. Não pôde deixar de comparar aquela construção tão tosca, com aquelas que ela insistia em fazer nos seus acampamentos. Ela era uma líder de patrulha e era muito boa nisso. As suas construções de troncos e sisal eram elaboradas e admiradas por todos. Aquelas que eles tinham feito, não chegavam sequer aos pés, das dela. Ela não sabe porquê, mas sentiu-se orgulhosa por isso. Achou entretanto umas latas de feijão, tomate pelado e atum. Decidiu fazer uma feijoada de atum e quando já passava do meio-dia, chamou-os para almoçarem.

domingo, 9 de agosto de 2009

Lisboa, 19 de Outubro de 1929 – Lisboa, 8 de Agosto de 2009

 

Sem mais palavras, pois já todas foram ditas, fica apenas aqui como prova da minha tristeza, uma das frases que mais gostei de ouvir, um actor dizer:

“Façam o favor de ser felizes!”

Por mais triste que me sinta, rio-me sempre com uma cassete que tenho de Solnado com "É do inimigo?”.

Obrigada e Adeus!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Antes de mais, desculpem ter ficado tanto tempo sem actualizar o blog, mas a verdade é que férias e computador, por mais portátil que seja, não combinam. Contudo estou de volta e com o meu retorno ao dia-a-dia pavoroso, voltaram, as pequenas pérolas que fazem dos meus dias, algo melhor.

Hoje tive que apanhar um autocarro, algo que simplesmente odeio, não suporto. Se de comboio eu sinto alguma liberdade e calma, posso ler e escrever, dormitar e sonhar, de autocarro, apenas perco tempo. Fico enjoada, não consigo ler e muito menos escrever e passo todo o tempo a pensar quando é que o estupor do condutor, não se vai espetar numa curva.

Estava eu nesse sacrifício, quando um senhor, com mais de 60 anos, se sentou ao meu lado. Cumprimentou-me, algo que achei educado, acho sempre que se deve dizer bom-dia, boa-tarde, boa-noite, é um bonito hábito que nos temos vindo a esquecer. Mesmo quando não conhecemos as pessoas, pois se elas se cruzaram no nosso caminho nesse dia, e depois de nos terem que ter visto, acho que é o mínimo que devemos fazer para melhorar o seu dia, desejar “Bom-alguma-coisa”. No entanto não ficou por aí e isso, já acho mal. Eu gosto de pensar e odeio que estraguem o meu raciocínio, mas o Sr. precisava de falar e na falta de se dirigir a um padre na confissão, eis que eu surgi, como um elemento salvador da sua alma e pensamentos torturados. (A igreja católica tem que fazer algo sobre isto, antigamente as pessoas não iam aos psicólogos, iam ter com um padre, eram de graça, poupavam ouvidos alheios, ninguém ficava a saber e eram igualmente desculpados e perdoados por qualquer acto que tivessem cometido e acima de tudo, não me chateavam). Mas estou a desviar-me das pérolas.

O Senhor, depois de ter contado uns quantos segredos sobre a mulher coscuvilheira que tinha feito uns amigos “Testemunha daquele gajo, o Jeová” e que lhe estavam a dar a volta à cabeça, ao ponto de ele quase ter querido bater-lhe na noite passada, confissão que foi seguida por uma frase minha, muito perspicaz e talvez a única que proferi:

“A violência é um poço sem fundo, do qual se faz bungee jumping, mas cujo elástico nunca permite voltar para cima, porque se parte!”

Acham que ele percebeu alguma coisa? ! O certo é que ele disse que eu tinha toda a razão e continuou, mudando de assunto, para uma sequência de pérolas que eu vou agora transcrever e acreditem que o contexto fez tanto sentido, quanto o que eu agora vou atribuir: Nenhum. E vou sublinhar as palavras que foram destorcidas ao longo do seu fluente discurso.

- E já viu a Gripe A? Começa a ser probremático. É um micróbrio, complicado de se evitar.

- É que as pessoas esqueceram-se do que é a hipiene.

- Nós tínhamos bácoros, ovelhas e cabras em casa, mas tínhamos as orelhas e as unhas sempre limpas e não tínhamos cá esses luxos como os putos de agora têm, como essas coisas que se usa nos ouvidos: os cordonetes.

- Mas basta ver nos supermercados. Deixam entrar todo o tipo de pessoas. Como é que a fruta pode ser segura, se drógados, pretos e ciganos, entram e mexem nelas. (Acreditem que se não fosse pelo facto de eu estar internamente a rir-me com a ironia de alguém que comete tantos erros de vocabulário pronunciar a palavra drogado, como os tios de Cascais, eu ter-me-ia levantado e ido embora naquele momento.)

- Se não vão comprar não podem entrar. Se os empregados têm que usar tocas e luvas, porque é que deixam entrar os piolhentos daqueles pretos e brancos drógados que usam aqueles cabelos cheios de m**** que não prenteiam?!

- É por isso que os micróbrios da Gripe A, não morrem.

- E os disvorcios?! (esta fez-me mesmo rir, pois alguém que fez parte das minhas férias também diz divorcio assim) Já ninguém fica casado! É tudo disvorciado e ninguém tem vergonha. Não acha?!

- Antigamente é que era, os miúdos brincavam na rua e nunca riscavam um carro ou roubavam um autromóvel. (talvez porque não houvesse muitos para roubar, mas roubavam outras coisas, o roubo não é uma invenção deste século)

Bem, acreditem que houve muito mais, até os trinta minutos da minha viagem tivessem terminado e felizmente pudesse sair do autocarro.

Digam lá se não foi uma excelente maneira de começar o dia?! Mas o mais engraçado é que se este senhor entrasse para o programa Novas oportunidades e tivesse passado aquelas pérolas para o papel, teria direito ao 12º ano.

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