sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

 
 
A minha irmã estava de folga, pelo que senti a falta da voz da minha sobrinha às seis da manhã, mas às sete, o telemóvel deu o alarme e ao som de Mondobongo de Joe Strummer e os Mescaleros, o meu cérebro, lentamente, acordou. Mas foi mesmo muito, muito, muito, lentamente. Começou por dar ordem aos olhos para abrirem, mas estes em contacto com a pele, decidiram ficar quietos. A pele sentia-se quente e protegida e pediu aos olhos, mais alguns minutos de tranquilidade.
 
O cérebro pediu então aos músculos que se mexessem, que se espreguiçassem, que induzissem alguma energia ao resto do corpo em plena greve, mas estes mal estremeceram, fizeram a pele sentir-se refrescada, numa nova posição e os nervos enviaram nova mensagem ao cérebro, pedindo mais alguns minutos de tranquilidade.
 
O cérebro pediu então, num apelo quase desesperado a todo o corpo para que acordasse, que já eram horas, mas os ouvidos ignoraram o novo alarme, os músculos recusaram a mover-se, os olhos mantiveram-se quietos e a pele, esse órgão tão importante e tantas vezes ignorado, gritou:
 
- Deixa-te ficar mais um bocado! - Assim o cérebro fez e, numa retirada estratégica, sonhou acordado por mais um pouco. À terceira repetição do alarme, encheu-se de energia e berrou:
 
- Acorda, corpo gordo e preguiçoso, o descanso acabou! - os olhos irritados mantiveram-se fechados e a pele aquecida pediu aos músculos para não se mexerem, mas estes, como soldados bem treinados e ofendidos pelo insulto gritado pelo cérebro, moveram o corpo num impulso, contraindo os abdominais, ao mesmo tempo que os bícepes e os lombares, deixando o corpo na posição de um gato a espreguiçar-se ao sol, com os lençóis a escorregarem para todo o lado.
 
A pele sentiu assim o frio da manhã e num arrepio mal humorado, disse então aos olhos:
 
- Abram lá! Já chega de mandriar!
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1 Ideia(s):

Anónimo disse...

Como tudo isso me é tão familiar. Acordar ao som de Mondobongo e assistir à tua lenta retirada da cama (lenta mesmo).

Com a pequenina a acordar-nos fica bem mais fácil de saír da cama (até porque, se não sairmos, ela arranja maneira de nos arrancar de lá).

Olha que a preguiça é um pecado mortal =P

Beijos!!

PS: Adorei a maneira como descreveste a "comunicação" entre o cérebro e os restantes orgãos.

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