quinta-feira, 17 de julho de 2008

Ele leva-a ao colo, protegendo-a da noite fria. Pousa-a numa cama de campanha e ata-lhe os pulsos. Não quer preocupar-se com ela, mais tarde. Observa-a de longe, do outro lado da tenda. Ele receia este encontro, quase tanto como o anseia. O tempo passa. Ela dorme. Ele não a conhece, nem tem a certeza se o deve fazer. Aproxima-se. Observa-a atentamente, de perto, como se quisesse sentir, para além de olhar. Ele pretende mais do que pode. A sua missão é-lhe penosa. Ela está indiferente, no seu estado de inconsciência, alheia a esta atenção não pretendida. Ele observa-a de novo. Adivinha a cor dos seus olhos. Avalia cada detalhe daquele corpo jovem, daquela beleza em estado puro, ainda não madura, mas já longe de ser verde. Tudo lhe parece irreal. Ouve a sua respiração lenta, triste, fraca. Sente o calor que liberta a cada expiração.
Decide tocar-lhe, sentir a firmeza dos membros, constatar que é de carne e osso, a pobre jovem que jaz naquele leito improvisado. Sente a suavidade da sua pele e imagina que seja assim o toque da seda. Cheira o perfume jovial de rosas que exala do seu corpo e tem uma ligeira tontura. As razões podem ser várias para essa fraqueza. Nada comeu durante todo o dia. Sofre já a alguns dias os sintomas de uma gripe grave. Ou, simplesmente, o cheiro daquela presa, provoca-lhe emoções que ainda desconhece. A verdade é que nunca, os seus sentidos se baralharam desta forma. Toda aquela pureza ao alcance das suas rudes mãos, era-lhe estranha e havia-lhe sido privada, desde que se recordava como gente.

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